7.10.16

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eu vivi uma história de amor
início meio e fim
eu vivi o começo, teu carro, tua atenção, teu sorriso e dias de amor intenso, as descobertas, os charmes e jogos...meus reparos em tuas manias, defeitos e prisões. aquelas que assim que fechamos os olhos nos vem a mente, remetendo a pessoa aquele jeito único de virar o rosto, ou levantar da cama, por exemplo.
eu vivi o meio, teus conhecimentos e ensinamentos, tuas preocupações comigo, teus desejos e inícios de planos em dois e me detenho bem devagar para falar do meio, pois ele define o fim de toda essa história - eu vivi uma história de amor quando teus braços me abraçavam a noite quando eu queria mas não sabia dizer, quando meu corpo já te conhecia e se guiava por tuas elevações. eu vivi uma história de amor quando nossos gestos e falas já eram iguais, sons iguais, músicas nossas, animais nossos, projetos nossos; ir em qualquer cômodo da casa juntos e o momento mais anormal que era ficar distante de você, pois era o mesmo que ficar distante de mim. eu vivi uma história de amor quando minha casa não era mais minha, onde meu conforto se tornou tuas saboneteiras onde minhas águas acumulavam em tuas roupas sob medida. eu vivi quando minha estabilidade financeira acabou e quando eu acordava meus cigarros já estavam comprados, meus remédios de garganta calculados e tua mão, tua mão sempre segurando meu pescoço para não cair diante aos limbos da vida, nossa vida.
eu vivi os perdões, as juras, as verdades mais doidas. profundeza.


e eu vivi o fim, teus medos, minhas inseguranças, tuas saudades de coisas não resolvidas, teu passado desgraçado e o meu ego tão exacerbado para não admitir abaixar a cabeça, depois de me ensinaram a segurar. eu vivi o fim quando cada cômodo dessa casa que não tinha mais família, só eu e você e não mais você - mas quando a casa te chamava, dia tarde e noite. quando teu cheiro estava na toalha que eu me secara, nas roupas que Deus, já lavei demais e não sai, dos cachorros chorando quando o corredor acendia a luz e eles, assim como eu, achavam que era você. todas as malditas noites.

eu vivi quando sai desesperada pela marechal deodoro, com aquela garrafa de vinho na mão, aceitando, renegando, aceitando, regenando. visão turva, olhos inchados, chuva, mãos segurando o pescoço para não cair e desaguar. oceano. 


eu vivi uma história de amor quase esquecendo que histórias acabam.

sobrevivi a uma história de amor.



"..você deságua em mim e eu oceano, esqueço que amar é quase uma dor"

Um comentário:

  1. Poxa Ray, nem sei o que te falar depois de tudo isso que li..

    Fique bem!
    Beijos!

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