18.5.12

"Nada ficou no lugar"

Almejar nunca foi novidade, até mesmo antigamente onde essas palavras pouco eram vistas aqui. Sei bem agora que você também sabe, porém não diz - você nunca diz. Até mesmo quando deveria.
Queria que dissesse exatamente aquelas palavras tão suaves como sua boca já tocou o meu ouvido um dia, quando minhas palavras não se mediam ao meu "não sinto mais". Pois verdadeiramente não sinto, você sente isso também? Já não é mais branco as paredes do teu quarto, tudo trocou de lugar e é tão vazio. Há tanto espaço que posso até te observar sem constranger-me com seus olhos já tão diferentes, opacos, que sempre parecem vasculhar dentro de mim uma possibilidade de eu não estar aqui apenas por querer estar.
Então deve doer, assim como dói em mim não enxergar mais nada do que via ou inventava aqui dentro, do teu/meu espaço que nem posso mais denominar assim, pois já ocuparam definitivamente aqueles teus dias livres. 
Ninguém vê, ninguém sabe. Quiça até desconfiaram um dia, que eu lembre, em qualquer lugar onde diziam sermos sempre nós dois até o fim. E mal sabiam que aqui dentro de nós, nosso mundo fatigado de encenações alastrava-se em uma complexidade sem fim. 
Que não há dúvidas! Foi exatamente esse mundinho infeliz que não permitiu referir-se aí como o meu lugar. Porque de qualquer forma, nunca seria mesmo. Agora entendo e sinto esse alívio por sermos finalmente nós, sem falsificar nossas identidades e enquadrar-se ao convívio. Estar aqui sem esperar nada é acostumar enfim, com teu silêncio. 
Penso agora olhando ao redor, vejo os móveis trocados de lugar, as paredes verdes, cortinas trocadas por vidro insulfilm, outras músicas, outras cores. Toda sua outra vida e me pergunto: essa transformação aqui dentro tem a ver com essa, do lado de fora?

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